Desde a publicação do livro “Persuasão” de Jane Austen postumamente em 1818, várias adaptações foram feitas para o cinema e televisão. Cada uma dessas adaptações trouxe sua própria visão e interpretação da história e todas elas têm fãs dedicados que apreciam suas particularidades.
Mas antes de falar sobre as adaptações, vamos voltar um pouco. O livro conta história de amor de Anne Elliot e Frederick Wentworth, que se apaixonam quando jovens, mas acabam se separando por pressão da família da moça, que não considerava Wentworth um bom partido por sua posição social e financeira. Oito anos depois, Anne e Wentworth se reencontram quando ele retorna à cidade como capitão da Marinha Real, agora rico e bem-sucedido.
Apesar de tentar manter as aparências, Anne ainda nutre sentimentos por Wentworth, mas ele está ressentido e magoado pela forma como foi tratado no passado. A história se desenrola a partir desse reencontro, explorando temas como segundas chances, arrependimento e a complexidade dos relacionamentos familiares.
Da BBC à ITV
A história foi adaptada para o cinema e televisão várias vezes ao longo dos anos, cada uma com sua própria visão e interpretação do amor de Anne e Frederick. Uma das primeiras adaptações de “Persuasão” foi a série de televisão de 1971, produzida pela BBC. Estrelada por Ann Firbank e Bryan Marshall, a série foi fiel ao livro de Austen e ganhou elogios da crítica por sua abordagem realista e autêntica da história.
Em 1995, a BBC produziu uma nova adaptação para a televisão, estrelada por Amanda Root e Ciarán Hinds. O filme é considerada uma das melhores adaptações do livro já feitas, com elogios para o desempenhos dos atores e a fidelidade ao texto original.
Em 2007, a ITV produziu uma nova versão da história para a televisão, estrelada por Sally Hawkins e Rupert Penry-Jones. O filme recebeu críticas mistas, com alguns elogiando a química entre os protagonistas e outros criticando a produção por tomar liberdades demais com o livro. Na minha opinião, essa adaptação é a melhor até hoje, mesmo com Sally Hawkins quebrando a parede e olhando para a câmera de tempos em tempos, é única que consegue captar a intensidade e a angústia de Anne.
Chegando à Netflix
A mais recente adaptação de “Persuasão” é a produção da Netflix, dirigida por Carrie Cracknell e estrelada por Dakota Johnson e Cosmo Jarvis. Considero essa a pior de todas as adaptações do livro. Entendo a tendência atual em transformar qualquer personagem feminina em uma heroína forte, independente, e destemida, mas pensar em uma Anne desse jeito é transformá-la em outra personagem, Elizabeth Bennet. Anne está presa a regras e padrões de uma época em que as mulheres eram consideradas pouco mais que adornos e um relacionamento raramente acontecia somente por amor.
A história do livro traz uma carga emocional muito grande, e uma das críticas ao filme da Netflix é que atriz transforma Anne em alguém que parece quase despreocupado com o que o futuro lhe reserva e as únicas coisas que faz para lamentar o amor perdido é chorar no banho, beber e fazer papel de boba na frente de todos. A Anne de Jane Austen jamais faria nenhuma uma dessas coisas, pois vive presa dentro das convenções sociais. Anne é resignada, insegura e enfrenta com dignidade seu destino até então.
Enquanto não recebemos uma adaptação digna, considero que a melhor versão é o próprio livro. Ao longo da narrativa, somos guiados pelas emoções complexas e conflitantes de Anne, que nos levam a refletir sobre as nossas próprias escolhas. Considero que ninguém deva ler Persuasão antes de perder algo na vida. Persuasão é um livro que certamente tocará o seu coração e deixará uma marca duradoura em sua alma.
